Porque ler é sexy
HRM, 29.12.14
Creio que a pior coisa que alguma vez ouvi da boca de um homem, foram as palavras: "Eu posso dizer que nunca li um livro na minha vida". A facilidade e leveza com que estas palavras foram proferidas foram algo que na altura me deixaram estarrecida. A tal, respondi: "Nunca repitas essas palavras, em voz alta e a ninguém."
Vindas de um homem com pouco mais de quarenta anos - há quem diga com idade para ter juízo - são sintoma de que dali não poderia vir grande coisa. Ainda perguntei se nem tinha lido nem um livrinho aos quadradinhos mas, nem por aí tive grande sorte. Percebi, posteriormente, que de facto a criatura não era grandemente articulada apesar de até manifestar uma capacidade intelectual interessante. Capacidade intelectual esta, muito relacionada com uma habilidade extraordinária em papaguear ou imitar outros e não, necessariamente, com a capacidade de produzir conhecimento após a fase da aquisição da informação. Ou seja, a criatura era incapaz de transformar a informação em conhecimento, no entanto sabia utilizar a informação adequadamente e para os fins que pretendia.
Todavia, não para todos os fins que pretendia porque para alcançar os seus objectivos, ou pelo menos os da altura, precisaria de muito mais.
De hoje em dia, para se ser sexy é preciso muito mais do que passar dez horas num ginásio ou imitar
as últimas tendências da moda. É preciso muito mais do que uma imagem, falsamente, aprumada que por norma só funciona temporariamente e com garotinhas de escola que ainda estão à procura de quem são e do que são. É preciso uma estrutura, é preciso aquilo que os gregos chamavam de thymos (nota: não encontrei a definição em português, sendo que as mais semelhantes serão as palavras Ânimo ou espirito). Tem de ser inteligente, tem de saber conversar, tem de saber articular e expôr ideias. Mas acima de tudo tem de ter a coragem de saber viver do modo que apregoa. Não basta saber dizer e quando dizer, tem de saber fazer e quando fazer. Ser esperto é apenas um expediente de curta duração, uma pedrinha de vidro que se parte à primeira martelada. Não é um diamante. Sem a inteligência para o transformar nalgo imprescindível e valioso, é apenas mais um acessório que brilha imenso e faz um vistão - o que não é necessariamente bom - mas que não vale nada.
Este homem era (e creio que ainda é) assim. Uma pessoa com uma história de vida interessantíssima mas, sem thymos. Sem estrutura, sem a espinha dorsal que nos mantém erguidos. Faltou-lhe ler uns tantos ou quantos livritos presumo.